sábado, 21 de junho de 2008

Nascendo... - Antropologia

Partos

No século XIX, havia a idéia de que a cultura era desenvolvida de forma unilinear, existia uma espécie de escala evolutiva, estando sempre no auge as sociedades européias. Etnocentrismo e ciência marchavam então de mãos juntas. Com a globalização das culturas e tecnologias, algumas tradições têm sido modificadas. Isto torna-se notório até ao nascer: através do parto.

O parto que já foi algo "padronizado", no sentido em que todas as sociedades tinham seus respectivos bebês nascidos de forma natural, apenas mudando a posição e o nome. Entretanto, atualmente o parto é feito de outras formas e com conotações diferentes já que não importa o nascimento somente e sim como este é efetuado. O parto tem uma longa história já que é uma daquelas experiências humanas e universais: em todas as épocas e em todas as partes do mundo as mulheres deram à luz. Todos nós passamos ao nascer por esta vivência, é nossa porta de entrada para o mundo, passagem estreita, misteriosa e às vezes perigosa, prova e desafio para cada indivíduo: condição indispensável para a sobrevivência da humanidade.

Apesar de o parto ter sido estudado e o corpo feminino anatomizado, desconstituído, fragmentado, quem assiste a um parto percebe a presença de algo transcendente: a renovação da vida. Por ser uma experiência tão importante para a humanidade, e de certa forma fora de seu controle.

Em civilizações antigas, como as egípcias a parturição era uma arte sagrada pois as parteiras tinham as suas escolas nos templos e eram chamadas de mães divinas. O parto estava, em todos os seus aspectos, sob tutela da divindade e pertencia ao âmbito da experiência religiosa. Nas gregas arcaicas era assim: ao dar à luz a mulher ficava de joelhos, apoiada sobre os cotovelos, enquanto as romanas faziam uso de uma cadeira especial e eram acompanhadas por parteiras. Entre os Incas, os partos eram de cócoras ou sobre uma cadeira baixa. Já entre os Maias há representações de partos com uma mulher apoiada com um pé no chão e outra perna ajoelhada. Os Astecas e os nativos brasileiros a posição de cócoras era a usada.

Na antiguidade, o momento do nascimento era considerado sagrado e a habilidade de uma parteira devia sempre estar associada à boa disposição das deusas. Este ato heróico - o parto - sofreu uma longa transformação nos séculos que marcaram o surgimento e a plena realização, sempre mais radical e irreversível, da civilização ocidental. Esta se caracteriza por uma estrutura social e cultural baseada no patriarcado e na sua conseqüência "científica": o pensamento racional e tecnológico. Foi assim que o heroísmo das mulheres em trabalho de parto se transformou no "heroísmo" dos médicos que fazem os partos das mulheres.

A avaliação científica das práticas de parto da sociedade americana na década de 1990 vem postulando a efetividade e a segurança de uma atenção ao parto com um mínimo de, ou nenhuma, intervenção sobre a fisiologia e a adoção de muitos procedimentos voltados às necessidades das parturientes - ao invés de organizados em função das necessidades das instituições e dos profissionais. Trata-se de uma mudança de paradigma que redimensiona totalmente a sentido da assistência ao parto. Entender os componentes dessa assistência em sua dimensão simbólica, como os rituais, torna-se ainda mais relevante hoje do que há uma década.

Existem vários tipos de partos que podem ser usados em diferentes culturas, dentre eles estão:

* Parto de cócoras

É realizado da mesma forma que o natural mudando a posição da mão, que, em vez de ficar na posição ginecológica normal, mantém-se de cócoras. É mais rápido, pois é auxiliado pela gravidade, mais cômodo para a mulher e mais saudável para o bebê, pois não se tem mais a compressão de importantes vasos sangüíneos que acontece com a mulher deitada de costas. Porém, só pode ser utilizado se o feto estiver na posição cefálica (com a cabeça para baixo).

Comunidades indígenas brasileiras utilizam este tipo verticalizado, pois "respeitam" a fisiologia da mulher neste sentido.

*Parto Cesária

É um processo cirúrgico e deve haver motivos clínicos para a realização deste como: desproporção do tamanho do bebê em relação à pelve, infecção, gestantes diabéticas, posição do bebê invertida. O método é um dos preferidos pelos médicos. Os motivos são simples: a hora é marcada, ou seja, é mais cômodo para os médicos, demora apenas meia hora, em média, já o parto normal doze horas, e em um parto cesárea o valor recebido é quase o tipo do que em um parto normal.

O Brasil é um dos campeões mundiais em cesáreas, mas há opções de partos menos agressivos ao feto e à mãe.

*Parto com Fórceps

É o parto vaginal (parto normal) no qual se utiliza um instrumento semelhante a uma colher em casos de emergência ou sofrimento fetal.

*Parto na Água

Começou a ser usado por um francês uma banheira de água quente para ajudar no trabalho de parto, pois ajuda na dilatação do colo de útero e o períneo da mãe ganha maior flexibilidade. No Brasil pouquíssimas clínicas e médicos oferecem este conforto às pacientes.

*Parto Normal

O parto normal ou vaginal por ser mais parecido com o fisiológico (parto natural) tem vantagens sobre a cesariana. O corpo da mulher foi preparado para isso, a recuperação é muito mais rápida, há menos chance de hematomas ou infecções, menos risco de complicações para a mãe e menor chance de dor pélvica crônica.

Partos no mundo

Os índices de cesárea cresceram na Europa, onde tradicionalmente sempre foram baixos. Ainda assim, estão em 20%, bem abaixo dos brasileiros, de 35%. Veja como o parto é realizado em alguns países:

- Estados Unidos e Canadá:

Cesáreas 26,1% (em 2002) e 6% (em 1960).

- Inglaterra

Cesáreas 22% (em 2002) e 4% (em 1970).

Obs: No sistema público de saúde inglês são as parteiras que assistem os partos normais sem a presença se obstetra e pediatra. Os obstetras só entram em cena quando há indicação médica para cesárea e em média apenas um terço das mulheres recebe anestesia.

- Holanda

Cesáreas 8% a 10% (em 2002).

- Brasil

Cesáreas 42% (em 2002)

82,4% (em 2004)

41,8% (em 2005).

Curiosidades:

- A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que apenas 15% dos partos sejam cesáreas.

- Parto Humanizado: é um procedimento efetuado por uma parte dos médicos hoje em dia que muitas vezes até ignora as recomendações feitas pela organização Mundial de Saúde. Esses procedimentos consistem em abrandar a dor do parto fazendo com que o mesmo seja efetuado da maneira como a gestante preferir, mesmo que para isso sejam necessários o uso de medicamentos e intervenção cirúrgica.

- Método Leboyer: Esse método pode ser efetuado tanto em partos normais quanto cesariana, já que a sua prioridade é o modo como a criança vem ao mundo. A luz baixa substitui a alta na sala de parto ,musicas relaxantes são colocadas e ao invés de se falar normalmente se sussurra. Logo após vir ao mundo a criança é posta sobre o peito da mãe para que possa ir se habituando com a mãe. Esse método foi divulgado em 1974 na França pelo médico de mesmo nome do método.

- No SUS, o médico recebe mais por uma cesárea (R$ 387,30) do que por um parto normal (R$ 263,49). Nos convênios, a lógica é a mesma (até R$ 600 o parto normal e até R$ 1 mil a cesárea)

Abaixo, os gráficos de uma pesquisa realizada com cerca de 60 pessoas:

Kroeber dizia: "Para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertença, ele [o homem] tem que satisfazer um número determinado de funções vitais, como a alimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual etc. Mas embora estas funções sejam comuns a toda humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. É esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções que faz com que o homem seja considerado um ser predominantemente cultural".

Há diferentes tipos de partos em diferentes culturas e estes tipos variam de acordo com os interesses de determinadas sociedades. Ao decorrer do trabalho é possível notar que o significado intrínseco do parto tem se modificado de acordo com as tecnologias que podem ser incorporadas ao processo e a vontade feminina do alívio da dor e de acordo com o interesse dos médicos, com as nossas crenças culturais e sistema de valores, mulheres contemporâneas ocidentais não seriam capazes de dar à luz sem o auxílio da dos recursos que existem, tendo assim uma visão etnocêntrica .

As parteiras, que há muito tempo foram a forma mais usada para a realização de partos hoje denotam outra coisa, elas têm lutado por direitos trabalhistas, formam ONGs. A mudança do papel das parteiras começa quando há um crescente envolvimento dos médicos na cena do parto, a condenação das práticas tradicionais e a exigência de uma formação e um diploma para o exercício profissional das delas.

A visão do parto como um evento cultural - seja realizado entre tribos ditas primitivas, seja em uma maternidade de ponta em uma cidade de Primeiro Mundo - é recente. Com a crescente medicalização do parto no final do século XIX e por quase um século, o nascimento interessou muito aos médicos, que foram por muito tempo os seus principais porta-vozes. Nos últimos 40 anos, porém, profissionais de diferentes áreas, sobretudo pesquisadoras que incorporaram a reflexão feminista, trouxeram uma importante contribuição, não apenas na área acadêmica, mas também na assistência.


Referências bibliográfias:

www.brasilescola.com/biologia/partos

www.amigasdoparto.org.br

www.unb.br

www.guiadobebe.uol.com.br

www.terra.com.br/istoe

www.revistacrescer.globo.br

www.cremesp.org.br

Nenhum comentário: