sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sobre o período Românico dentro da exposição "LUSA: A Matriz Portuguesa" (Centro Cultural Banco do Brasil - 2007)

Ao visitar a exposição “LUSA: A Matriz Portuguesa”, pode-se perceber vários períodos da História da Arte Mundial representados através de um país, Portugal, da Pré-História à expansão marítima.

Contempla-se na exposição a evolução cultural em seus mais ricos aspectos e a própria evolução como Nação Portuguesa. A História do país é contada através de esculturas, ferramentas, artesanato, armas de guerra, lápides, instrumentos, tampas de sarcófagos, capitéis; enfim, formas de arte e tecnologia.

Uma das épocas retratadas na exposição dentro da Idade Média é o Cristianismo Medieval que é dividido em duas partes: Românico e Gótico.

O assunto a ser discorrido é o Românico, período compreendido, aproximadamente, entre os séculos X e XIII, marcado pela sociedade rural, implantação de mosteiros beneditos, a relação camponês-nobre (o Feudalismo) e a fortíssima influência da Igreja Católica.

O Feudalismo surgiu em decorrência da queda do Império Romano e era composto por três estamentos: Clero (Igreja Católica, detentora do poder sobre toda a sociedade), a Nobreza (o “2º estamento”, possuidora das terras) e os Servos (ou camponeses). Praticamente nula a chance de mobilidade social.

Tendo em vista o cenário sócio-econômico, compreende-se o porquê das produções culturais desse período sejam direcionadas à Igreja. O objetivo principal das obras não era a beleza em si, e sim seu conteúdo.

As obras foram construídas seguindo exemplos Romanos, por isso o nome Românico, na construção de igrejas, por exemplo, usa-se o aspecto de naves de abóbadas de pedra substituindo o travejamento de madeira, de certa forma até para evitar incêndios e para dar idéia de fortaleza e afins. Como essa estrutura de pedra é muito mais pesada do que a de madeira, foi necessária uma estrutura de suporte maior e mais resistente. Eles então fizeram a seguinte estrutura: de uma a cinco naves colunas para sustentar as abóbadas de pedra, até com aspecto maciço e horizontal, paredes cegas (pois é muito difícil abrir grandes janelas nas paredes já que elas servem como estrutura e suportam todo o teto extremamente pesado). Exemplos desse tipo de igreja são: a Igreja Santiago de Compostela, Santa Madalena de Vèzelay, Igreja de Saint-Martin de Tours, a Catedral de Durham.

Um exemplo interessante a ser mencionado é a Igreja de Saint-Sernin de Toulouse, planejada para abrigar muitas pessoas e em formato cruz com dimensões enormes.

Na parte exterior e interior a decoração era feita através das esculturas nos tímpanos nas portas de entrada e nos capitéis e colunas, e pintura parietal nas ábsides e abóbadas das naves. Aí que entra a escultura e a pintura nesse período histórico, eram muito mais utilitários para a arquitetura do que uma arte em si, própria e independente. Exemplo encontrado na exposição é o Capitel com Sereia e Animais Afrontados (1150-1475), feita de calcário.

As pinturas eram feitas na Igreja simbolizando atos da Bíblia ou o medo que sentiam de demônios, eles utilizavam essas pinturas porque grande parte da população não sabia ler, então as faziam para narrar essas histórias bíblicas e para comunicar valores religiosos à essas pessoas.

Como eles não se preocupavam em retratar a natureza como ela realmente é, eles usavam cores chapadas, sem utilizar muitos meios tons, sombra, claridade e profundidade. Também havia a preocupação em fazer figuras divinas sempre maiores do que humanas, mesmo se elas estivessem no mesmo local, isso servia para demonstrar que os humanos, na visão da Igreja, é inferior a Deus. Exemplos disso: São João Evangelista, do Evangeliário do Abade Wedricus, A Travessia do Mar Vermelho.

Outro objeto interessante que está na exposição é o Elmo com Nasal, Castelo de Torres Novas (século XII – XIII) feito de ferro, ele simboliza bem as guerras católicas e bárbaras. E nas próprias igrejas eram construídas torres em suas laterais.

As obras fogem do estilo Clássico não só pelas cores e pelo formato das Igrejas, mas também, pelas próprias pinturas, até mesmo o corpo humano é feito ‘desproporcionalmente’ com pés grandes, mãos grandes, olhos esbugalhados, rostos grandes, enfim, além de fazer humanos menores que anjos como havia mencionado antes, eles não retratavam com fidelidade a figura humana.

     De modo geral, percebe-se que o Período Românico foi um momento de transição, pois antes dele, as manifestações artísticas eram praticamente nulas devido à proibição da Igreja de fazê-las, portanto, eles tiveram que reinventar sua arte e reaprendê-la.

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